segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Sempre o Amor.

   Às vezes é muito difícil conciliar o cuidar de si mesmo e dos sonhos... Por isso sumi um pouquinho... Mas vejam... meu ser íntimo, a cada dia mais lúcido ou mais louco continua a amar...ainda bem.... e na ânsia de cortejar tal sentimento... revivo meus poetas...

As sem-razões do amor


Eu te amo porque te amo,

Não precisas ser amante,

e nem sempre sabes sê-lo.

Eu te amo porque te amo.

Amor é estado de graça

e com amor não se paga.



Amor é dado de graça,

é semeado no vento,

na cachoeira, no eclipse.

Amor foge a dicionários

e a regulamentos vários.



Eu te amo porque não amo

bastante ou demais a mim.

Porque amor não se troca,

não se conjuga nem se ama.

Porque amor é amor a nada,

feliz e forte em si mesmo.



Amor é primo da morte,

e da morte vencedor,

por mais que o matem (e matam)

a cada instante de amor.

Carlos Drummond de Andrade



[Quem Sabe um Dia]
 
Quem Sabe um Dia

Quem sabe um dia

Quem sabe um seremos

Quem sabe um viveremos

Quem sabe um morreremos!



Quem é que

Quem é macho

Quem é fêmea

Quem é humano, apenas!



Sabe amar

Sabe de mim e de si

Sabe de nós

Sabe ser um!



Um dia

Um mês

Um ano

Um(a) vida!



Sentir primeiro, pensar depois

Perdoar primeiro, julgar depois

Amar primeiro, educar depois

Esquecer primeiro, aprender depois



Libertar primeiro, ensinar depois

Alimentar primeiro, cantar depois



Possuir primeiro, contemplar depois

Agir primeiro, julgar depois



Navegar primeiro, aportar depois

Viver primeiro, morrer depois

Mário Quintana

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Por que a poesia?

Quando se é criança
o mundo enorme parece nos esperar
para que possamos salva-lo
de toda indignidade...

Depois, a verdade
vai murchando a fantasia,
perdemos sonhos e vontades
saboreamos migalhas
das toneladas de ideais.

Mas isso não é tão ruim
porque a simplicidade
refaz a essência
em nossos corações...

O amor, a prole , o trabalho:
o cotidiano mais bonito
que pode existir!

Por isso a poesia em minh'alma
e na pele de algumas páginas...
Thaís Ismail (2006)

Imagem retirada Internet : Picasso





quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Sempre o mas...




A impossibilidade me renova
e talvez seja apenas sonho
o que eu mereça do teu sorriso.
E como o dia se transforma
quando teu olhar se derrama
em minha mão...
Mas há pinceladas de frases
há conveniências do conviver...
Mas meu espírito tão insensato
queria beijar-te tão profundamente
e queria lentamente ser tua
e inteiramente ser eu mesma
embora, depois, tivesse que partir...
Mas eu sentiria o renascimento
do meu corpo tímido
já tão repleto de ti.

                                                                                      Thaís Ismail

Imagem : P.A. Renoir  - detalhe de  O Almoço do Remador.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Beijo

Não repares
no rubor de meus lábios
agora trêmulos
e assim entreabertos.
É porque há pouco
pronunciaram teu nome
e ficaram desertos.



Meus olhos marejados
só veem tua boca,
tingida de sorriso tímido...
É a ilusão `a espera ...
Consente, então, 
 meu angustiado
e único pedido...



Queria ter
na pétala de meus lábios
 apenas um suave beijo.
Seria  instante sereno
o entrelaçar
do vento e da flor :
tua alma abraçando a minha
como em filmes
de perfeito ardor...



Segundos de felicidade...
Não mais importaria o sonho
porque para sempre
eu teria nos lábios
o sublime momento
de imaginar-te meu amor...
Thaís Ismail

Imagem : Filme Casablanca.






terça-feira, 17 de agosto de 2010

Fendas do talvez




Faminta por passagens...

Sou busca eterna do mais,

Talvez eu seja vã, tola;

Não vi o perfume da noite

Só tua noite em mim

Só tua face em mim

E eu a buscar-te entre pedras

A lutar com as fendas do talvez...

Fatalmente ingratidão!.



Um eu sonha e se alimenta no ar

Dos passos leves, lábios ternos

Boca sem sossegar

Um outro eu lambe o fogo da sorte

Exilando-se no labirinto do silêncio

Dos tremores...

A dor devia deixar-me descansar...

Ou pelo menos que escolha

Entre lá e cá somente um lugar...

(refeito...)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Meu pai!

     Durante muitos anos,  fiz cartões de Dia dos Pais... mas eu tinha perdido o contato com o meu ... Meus pais  se separaram quando eu era muito pequena... e, para mim,  não havia sentido fazer os tais cartões porque eu queria sentir mais do que saudade, eu queria viver momentos , invés de inventa-los...

    Pois bem ... no ano passado , graças ao meu irmãozinho caçula, Kennyo, tive a felicidade de reencontra-lo. Foram 30 longos anos "em busca de paz" e finalmente, agora,  podemos vivenciar esse amor com homenagens e abraços, carinho e dedicação, com sentimento de muita luz, muito forte, muito sonhado...

   Mas ficou tão difícil escrever! Por que será? Na ânsia de agradar, as rimas ficam frouxas, as palavras saem truncadas.... acho que ficaram muito tempo guardadas em meu coração...
    Meus filhos estão adorando a história do novo avô! Então... deu para misturar as nossas sensações.... Espero que me pai se veja em algum verso, e que meu marido, o pai que já ganhou muitos poemas, possa também , aqui, reconhecer-se ... É  um pequeno poema surgido ontem à noite e o coloco à mostra...
    Quem sabe quantos outros surgirão a partir desse pequeno botão...

 Pai

Pai tem olhar de criança envelhecida

Torna-se herói e pirata; mágico e alienígena

Vive diferentes sentimentos em cada brincadeira

Mas quando me diz: “Filha” sou vida plena

Soa tão forte...

Pai é colo quando o sonho parece pesado...

E mesmo contrariado, diz tudo o que é necessário,

Embora nem sempre queiramos ouvir.

Pai é esperança, porto seguro, farol a reluzir

Mesmo quando suas lágrimas às vezes fogem dos olhos

E ele nem tem tempo de impedi-las de cair...

Deus, Sapiente, empresta a ele seu outro nome

PAI é ser humano que busca acertar o controle...

Ser como meu pai ou ser completamente diferente dele?

Pouco importa... afinal, a lição é amar e ser feliz com e por ele...

E descobri que muitas vezes meu coração é mais dele do que meu ...

Ainda mais quando repenso seu olhar de criança que envelheceu

Então, seguro em suas mãos sofridas...

Por seu amor , a Deus agradeço ,em preces comovidas !

(Thaís Ismail)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Vento

Vento vai veloz me levar

Porque veio devagar

envolver, convencer

Minha mente a voar...



Vi assim tudo vindo

envaidecendo uma alma

A vida , na verdade,

É uma voz a divagar



Vai veloz me levar...

Embora eu vacile

No seu afável olhar

E em seu valioso valsar



Vantagem ou vazio

Sentirei a voejar ?

Vitória ou revolta

O coração vociferará?



Já vago a custo

Virtude a lume

Enquanto o Maior Veredicto

Vem voraz me verificar.
Thaís Ismail

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A beleza dos pássaros em voo ( parte II) Rubem Alves


Aves transformadas em mistérios,
palavras configuradas como gaiolas.



Tentar descrever os grandes enigmas da vida
torna a experiência menos bela



Desviei-me de uma das mais influentes escolas da Teologia contemporânea que, sob a inspiração da espiritualidade do martírio, só tinha olhos para a coroa de espinhos, para os cravos e para as feridas, e não tinha olhos para a flor.


Assim, abandonei as inspirações éticas e políticas da Teologia – justificação pelas obras - e deixei-me levar pela felicidade estética – justificação pela graça. Alegria para os olhos, alegria para o corpo. Deus, em oposição aos seus adoradores, que fecham os olhos para vê-Io melhor, abre os seus e se alegra. O ato de ver é uma oração. O visível é o espelho onde Deus aparece refletido sob a forma de beleza. Deus é um esteta.


A literatura me chegou sem que eu esperasse, sem que eu preparasse o seu caminho. Chegou-me através de experiências de solidão e sofrimento. A solidão e o sofrimento me fizeram sensível à voz dos poetas . A decisão foi tomada depois de completar quarenta anos: não mais escreveria para os meus pares do mundo acadêmico, filósofos ou teólogos. Escreveria para as pessoas comuns. E que outra maneira existe de se comunicar com as pessoas comuns senão simplesmente dizer as palavras que o amor escolhe?


Toda alma é uma música que se toca. Quis muito ser pianista. Fracassei. Não tinha talento. Mas descobri que posso fazer música com palavras. Assim, toco a minha música... Outras pessoas, ouvindo a minha música, podem sentir sua carne reverberando como um instrumento musical. Quando isso acontece, sei que não estou só. A poesia revela a comunhão.


O que faço é tentar pintar com palavras as minhas fantasias – imagens modeladas pelo desejo – diante do assombro que é a vida. Se o Grande Mistério, vez por outra, faz ouvir a sua música nos interstícios silenciosos das minhas palavras, isso não é mérito meu. É graça. Esse é o mistério da literatura: a música que se faz ouvir, independentemente das intenções de quem escreve.


Escrevi, faz muitos anos, um estória para a minha filha de quatro anos. Era sobre um Pássaro Encantado e uma Menina que se amavam. O Pássaro era encantado porque não vivia em


gaiolas, vinha quando queria, partia quando queria... A Menina sofria com isso, porque amava o Pássaro e queria que ele fosse seu para sempre. Aí ela teve um pensamento perverso: "Se eu prender o Pássaro Encantado numa gaiola, ele nunca mais partirá, e seremos felizes, sem fim..." E foi isso que ela fez. Mas aconteceu o que ela não imaginava: o Pássaro perdeu o encanto. A Menina não sabia que, para ser encantado, o Pássaro precisava voar...


Dei-me conta de que essa estória é uma parábola da Teologia. Existe sempre a tentação de prender o Pássaro Encantado, o Grande Mistério, em gaiolas de palavras. O poeta é aquele que ama o Pássaro em voo. O poeta voa com ele e vê as terras desconhecidas a que o seu voo leva. Por isso não há nada mais terrível para um poeta que ver um Pássaro engaiolado. Daí que ele se dedique, hereticamente, à tarefa de abrir as portas das gaiolas, para que o Pássaro voe. E é para isso que escrevo: pela alegria de ver o Pássaro em voo.


Somente na velhice nos reencontramos com a infância. Creio que essas coisas que escrevo são uma tentativa de recuperar a felicidade perdida da minha infância. Agora, na velhice, experimento a alegria de ver muitas gaiolas vazias. E a alegria de ver os amigos que sorriem comigo, ao ver os pássaros em voo. Mas há uma tristeza. Sinto-me como Ravel, que, ao ver aproximar-se o fim, dizia, num lamento: "Mas há tantas músicas esperando ser escritas!"


Revista PSIQUE Ciência&Vida, Jul2010, Ano V, nº55.

domingo, 18 de julho de 2010

Singela Homenagem

Espero que se reconheçam , cada qual em uma das  três sílabas: gi, ga e go... meus intelectuais, pais do sentimento, bruxos das tormentosas madrugadas, mas  almas admiráveis, pessoas estimadas , seguidas , brilhantes.... sempre...
       Brinco com as teclas
porque o pensamento
agora salta a outras planícies,
interioridades, desassossegos.
 E, absorta
 nas palavras  dos intelectuais,
pareço formiga
procurando a folha mais verde,
o caminho mais curto,
a sombra mais amena,
o vento mais companheiro....
        E não adianta.
Não sou a luz
do caminho do vôo das borboletas,
 nem a estrada do martírio,
também não quero ser um pássaro ferido...
 Oh, meu Deus... 
sentir tanta dor pra quê?
que buscar , afinal?
      Na intimidade , vou me educando
a ser mais letra que sopro,
mais terra que nuvem;
sou entretanto tanta lágrima
a se derramar sôfrega , atemporal... 
Ah...antes aceitar meu Quixote
que procurar ser alguém real...

terça-feira, 13 de julho de 2010

Vó Nésia...






Do seu rosto nada resta ...


Nem os olhos brilhantes e calmos


Difíceis de se ver pelos óculos


Nem o sorriso sempre tímido


Nem a tez sempre banhada de suor






Do seu corpo nada resta...


Nem o braço incansável de bordar, tricotar


Nem as mãos, sempre  tão asas  ao piano


Dedilhando as músicas mais lindas que ouvi!


Nem suas pernas de tantos caminhos traçados


Descansam à beira mar , acariciando a areia...





Mas é também verdade como não me resta


A menor dúvida: amor não se vai, vó...


E a sua vida, para sempre, está em mim


Mais sábia a cada lembrança


Mais aconchegante a cada lágrima,


De saudade, vó, de muita saudade...


domingo, 4 de julho de 2010

Voo mágico




Vigio-te no íntimo meu

Cresces solerte e devagar

Vais aumentando devaneios

Nos quase quietos

Pensamentos teus.

Quero fugir de mim ...

E retornar ao chão seguro.

Mas é impossível,

porque um vôo mágico

Me surpreendeu!

Ah, coração, estás em apuros!

Minhas Pétalas


Se minhas pétalas
insistem em se despregarem
do centro de tudo,
como posso segura-las
sem mãos de ar profundo?
Sopro-as delicadamente
uma a uma  acima, em frente...
Vão seguindo com elas
os anos e os momentos...
Mas é perfeito!
Tornam-se suaves sombras livres
são perfumes  que invento...

sábado, 3 de julho de 2010

Martírios

Observo o mundo... silêncio...
mas perplexo, o coração todo gira...
E meu ser, ainda ínfimo, lastima
nas celas que eu já bem conheço.

Olhos da noite trazem martírios.
Talvez... deliciosos delírios
momentos insanos e cortesias,
tolices do hábito ou da nostalgia

Pensei : passa logo, madrugada
porque me sufoca dormir sem sono
apresso-me: as ilusões abandono...

Passa lento e longo o pensamento
Sinto-me entorpecer  , cruel veneno...
A verdade é que sou apenas um sonho.

sábado, 19 de junho de 2010

A Flor do Sonho






A vida é escassa de frutos

Nem se vê o passado,

nem se vê o futuro

Está sempre a desenhar

a amargura...

Resseca a terra,

Devolve a morte ao barro

Tão celeste de Adão.


Cativa a escuridão frente a luz

O fracasso à vitória,

O medo à ousadia ...

Traz dor, lágrima

E ao ímpeto: a covardia

Homens serão pó ...

Mas há uma gota

de místico cristal

Que reluz a esperança

Derramando o bálsamo, a cura !

Há um perfume envolvente

Purificando a aura :

A Flor do Sonho

Sempre a desabrochar

Na desordem da alma ...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Murmúrio

Às vezes esperamos que as pessoas falem aquela mensagem que nos transformaria, esclareceria, acalmaria.... procurei muitas mensagem , inclusive nos olhares de meus mais amados, mas por fim ... que esperar dos meus ? A punição ou a aprovação ? Mais fácil, creio eu , a aceitação do que sou por mim mesma... Por isso, esse poema ....

A mensagem chega silenciosa
Conhece meu medo da dor
Já se encosta como mãe
E desfia o dissabor

Mas eu já a esperava
Nem mexi os lábios inseguros
Sorri de fato
Como em tempos escuros

Não há surpresa no tom frio
Tampouco alimento a mágoa
Em meu gesto frágil ou senil
Confio na nova jornada

E embora a terra trema
Os sentimentos são simples
Mantenho a mente serena
Na casa, o som está vazio.

Não espero mais a mensagem
Sou ela agora na intuição
Passos firmes vou desenhando
Um a um na transformação

Sorvo sonhos, névoas e caos
Chego ao meu tempo afinal
Metamorfose, inspiração
Calmaria , solidão
A palavra que me cria
Já desordena a punição.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Almas perfumadas

Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta.
De sol quando acorda.
De flor quando ri.
Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede
 que dança gostoso numa tarde grande,
 sem relógio e sem agenda.
Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça.
Lambuzando o queixo de sorvete.
Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher.
O tempo é outro.
E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.

Tem gente que tem cheiro de colo de Deus.
De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul.
Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis.
Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo.
Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso.

Ao lado delas, pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.
Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra.
Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza.
Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria.
Recebendo um buquê de carinhos.
Abraçando um filhote de urso panda.
Tocando com os olhos os olhos da paz.

Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.



Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa.

Do brinquedo que a gente não largava.

Do acalanto que o silêncio canta.

De passeio no jardim.

Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo.

Corre em outras veias.

Pulsa em outro lugar.

Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos, Deus está conosco, juntinho ao nosso lado.

E a gente ri grande que nem menino arteiro.



Tem gente como você que nem percebe como tem a alma Perfumada!

E que esse perfume é dom de Deus.



Ana Cláudia Jácomo (jornalista)

Esse texto foi escrito pela jornalista para a sua avó, que partiu. Penso nas pessoas que partiram também da minha vida e me deixaram as sensações tão bem escolhidas de Ana cláudia.
Quando escrevemos pessoas que se foram, descobrimos outros mundos...Descobrimos, inclusive, um novo mundo que nasce em nós...
Que pelo menos esse fique para sempre...

Som das Lágrimas

Quando a dor vai além do que se supunha...Beethoven

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Letras Aladas

Quando embaralho os pensamentos
Forças úmidas no olhar
Anunciam estranhos sentimentos
Que mal posso controlar!

São Tuas, oh meu Deus,
As letras aladas a me salvar
Dos medos , da ira, da vontade
De ver tudo, muito rápido, se acabar...

Letras aladas chegam pelo vento
Trazidas com perfume singular
Jasmim ou sândalo percebo
E um vento calmo a me abraçar.

O passado parece tranquilo
Noite, logo o dia vai chegar
Por força nova suspiro ...
Letras Aladas adormecem
Meu revolto mar...


Parece que a noite chegou ...




Parece que o brilho cessou



A surpresa veio tão faceira



Trouxe o sorriso e o apagou



Nos olhos uma lágrima verdadeira







Parece que a fantasia findou



A impossibilidade veio tão desordeira



Velou o sorriso e se aquietou



Ao desfazer a brincadeira







Parece que minh’alma fragmentou



A aflição veio de toda maneira



E quanta dor aqui se transformou







Parece que a noite chegou



A noite sempre chega sorrateira



Traz destemperos aos corações



No íntimo planta mágoa passageira







Parece que o mundo parou



A saudade veio traiçoeira



Derramou a silente submissão



Finda o sonho ,eis a sua fronteira.




Assim como prometi, este é mais um dos meus poemas do " Letras Aladas ". Espero que tenham gostado .






domingo, 23 de maio de 2010

José Saramago: Poeta da prosa, dragão do prêmio Nobel de literatura .

Saramago é polêmico, mas é gênio da Literatura. Sua tanquilidade em sentir e pensar e falar assusta inseguros, equilíbrios montados às custas do não-pensar, do esquecer...  Várias de suas obras não são propriamente o livro em si, mas o que nos falam  de nós mesmos. Daí a dor, o ressentimento social, político e religioso. Calma...  Essa é a minha frágil visão.

 Algumas de suas famosas citações:



“Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos.”



“É ainda possível chorar sobre as páginas de um livro, mas não se pode derramar lágrimas sobre um disco rígido.”



"Antes eu dizia: 'Escrevo porque não quero morrer' Mas agora mudei. Escrevo para compreender o que é um ser humano."



" O único progresso verdadeiro é o progresso moral. O resto é simplesmente ter mais ou menos bem."

" Não tenhamos pressa. Mas não percamos tempo."



"Se me perguntam por que escrevo, dou 30 respostas, nenhuma certa."



"Sabido é que todo efeito tem sua causa, e esta é uma universal verdade, porém, não é possível evitar alguns erros de juízo, ou de simples identificação, pois acontece considerarmos que este efeito provém daquela causa,, quando afinal ela foi outra, muito fora do alcance do entendimento que temos e da ciência que julgávamos ter."

                                                                                      (A jangada de pedra, pág. 12)

Muitas vezes, releio Manuel Bandeira ansiando uma resposta a tantas perguntas. Se as faço a tantos anos, é porque não amadureci , afinal? Ou será que a vida minha , diferentemente da dele, ainda precisa de arrumar a casa, lavrar o campo , por a mesa. Às vezes, parece que tudo está fora do lugar...Mas não desejo a morte, necessito de vida, sempre...


                                              A n t o l o g i a
Manuel Bandeira


          A vida
          Não vale a pena e a dor de ser vivida
          Os corpos se entendem mas as almas não
          A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.


          Vou-me embora p'ra Pasárgada!
          Aqui eu não sou feliz.
          Quero esquecer tudo:
          -A dor de ser homem...
          Este anseio infinito e vão
          De possuir o que me possui.


          Quero descansar
          Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei ...
          Na vida inteira que poderia ter sido e que não foi.


          Quero descansar.
          Morrer.
          Morrer de corpo e alma.
          Completamente.
          (Todas as manhãs o aeroporto em frente me dá lições de partir.)


          Quando a Indesejada das gentes chegar
          Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
          A mesa posta,
          Com cada coisa em seu lugar.
( livro: Estrela da vida inteira, Editora Nova Fronteira)

domingo, 16 de maio de 2010

Na janela...

O dia levantou quieto...
Se assustou comigo na janela
E ficou me espiando .
Trouxe um vento da infância
e um brilho ameno da adolescência,
Chorou uma hora inesquecível...
Ficou ainda mais quieto ....

E eu que fiquei olhando suas cores
Esqueci de avisar o dia
Que muito tinha a fazer!
E o que mais fiz
Foi esperar a tarde,
Que de repente caiu noite,
E em silêncio se levantou dia...


E eu ali na janela,
Esqueci de envelhecer ....

Thaís Regina Ismail

terça-feira, 11 de maio de 2010

L I B E R T U R A – A CHAVE DA INDEPENDÊNCIA

UMA CRÔNICA SOBRE O PRAZER
(E O PODER) DA LEITURA


                                                              Marcos Fábio Belo Matos
                                                                jornalista e professor

Bendito aquele que semeia livros,/ livros à mão cheia/
e manda o povo pensar (Castro Alves)

Um país se faz com homens e livros  (Monteiro Lobato)


(...)Fiquei um bom tempo pensando em dois casos de relação com a leitura. Paradoxais, por certo, mas com igual importância. Pensei, então, em cunhar uma palavra que resumisse os dois termos-chave. Liberdade e leitura : deu LIBERTURA. Penso que, praticando a leitura, o ser humano vai construindo sua liberdade rumo a um processo de independência. Senão vejamos: a leitura é uma prática que se ensina, como andar de bicicleta, e que, uma vez ensinada, jamais será esquecida, desde que exercitada. E é pela leitura que o homem vai se forjando como homem. Por ela que conhece o mundo, o sobrenatural, a fantasia, a realidade. Por ela que aprende o que deve ser (e também o que não deve ser). Por ela que estabelece suas primeiras relações com Deus (ou qualquer outro nome que lhe deem). Por ela que se educa para conviver em sociedade. Por ela que entra, via entretenimento, no mundo dos sonhos, das fantasias, das aventuras. Por ela que amadurece, levando consigo todo o seu arcabouço de conceitos que fazem de si um homem, adulto e pensante. Se um homem maduro rever sua vida, verá que quase tudo que sabe lhe entrou pelos olhos, via leitura.

E é essa prática de leitura que trará, penso, a independência deste mesmo homem. E concebo aqui esta palavra com a maior amplitude semântica e funcional que ela pode abarcar. Por exemplo: independência de poder conhecer o mundo por si mesmo; independência de travar contato com conceitos e optar ou não por eles; independência financeira (está mais do que provado que quanto maior o nível de informação – entenda-se leitura – maior a chance de empregabilidade e de receber maior salário); independência de fruição estética (poder conhecer e escolher as tendências estéticas que lhe aprouver e deleitar-se com elas); independência para se expressar (a relação leitura-expressão é diretamente proporcional; afinal, todo mundo que sabe falar/escrever é porque, um dia (ou vários dias) soube ler.

Quem aposta suas fichas na leitura não aposta em vão. Quem perde seu tempo com a leitura ganha a possibilidade de ser um alguém melhor no mundo. “O homem é os livros que ele lê” (Sartre)

Encontre o texto na íntegra em : http://marcosfmatos.blog.uol.com.br

sábado, 8 de maio de 2010

Dia das mães

             O desejo de ser mãe sempre me acompanhou pela vida. E realizei meu sonho duas vezes ! A primeira em 2000, com 31 anos; a segunda em 2004, com 35. e se pudesse teria mais aos 40!
O amor é , sem dúvida, a única razão para nos mantermos na jornada! E amor de mãe e filho, bem... nem é preciso definir o indefinível, imensurável, infindável prazer de apenas saber-se mãe...

            Há alguns anos, dona Rosinha, minha mãe, disse que eu não fazia mais poemas a ela ... Que surpresa a minha! Era a mais pura verdade. .. Então, escrevi, com a alma, um poema imenso .... Partes dele, publicáveis formaram esse outro poema :

Mãe,


Se em teu colo encontrei a segurança
E ainda hoje preciso nele ficar
É que do teu amor nasceu minha confiança
E meus passos pude traçar

Se em teus olhos encontrei tanta ternura
E ainda hoje orgulho quero te dar
É porque guardo as inúmeras vezes
Que, serenos, buscavam me consolar...


Se tua palavra foi simples e firme,
Só Deus sabe como conseguiu quebrar
As pedras infelizes que o Tempo trouxe ,
Mas Junto a ti, consegui superar...


Se cada vez que eu dissesse sobre o Amor
tua alma pudesse recompensar
Deus sabe o quanto eu diria
para teu sorriso sempre confortar ...


E meu maior projeto de vida
Se mescla em construir e lembrar
Da tua presença tão divina
Tua luz ainda a me guiar.