quarta-feira, 9 de junho de 2010

Almas perfumadas

Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta.
De sol quando acorda.
De flor quando ri.
Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede
 que dança gostoso numa tarde grande,
 sem relógio e sem agenda.
Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça.
Lambuzando o queixo de sorvete.
Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher.
O tempo é outro.
E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.

Tem gente que tem cheiro de colo de Deus.
De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul.
Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis.
Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo.
Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso.

Ao lado delas, pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.
Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra.
Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza.
Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria.
Recebendo um buquê de carinhos.
Abraçando um filhote de urso panda.
Tocando com os olhos os olhos da paz.

Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.



Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa.

Do brinquedo que a gente não largava.

Do acalanto que o silêncio canta.

De passeio no jardim.

Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo.

Corre em outras veias.

Pulsa em outro lugar.

Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos, Deus está conosco, juntinho ao nosso lado.

E a gente ri grande que nem menino arteiro.



Tem gente como você que nem percebe como tem a alma Perfumada!

E que esse perfume é dom de Deus.



Ana Cláudia Jácomo (jornalista)

Esse texto foi escrito pela jornalista para a sua avó, que partiu. Penso nas pessoas que partiram também da minha vida e me deixaram as sensações tão bem escolhidas de Ana cláudia.
Quando escrevemos pessoas que se foram, descobrimos outros mundos...Descobrimos, inclusive, um novo mundo que nasce em nós...
Que pelo menos esse fique para sempre...

2 comentários:

BLOG do diler disse...

Textos como este que voce postou me faz ter a ideia de que é possivel resgatar e remover da vulgaridade o singelo termo AMOR.

Dentre as diferentes formas de amar,o reconhecimento e o trato para com quem assistimos a partida, é na pratica (ao meu ver) a extensão dos liames que são carcaterizados em vida como carinho e afeto.

Belo texto Thais, bem providencial.

Abraços.

Diler.

AC disse...

Essa gente toca-nos porque temos teclas sensíveis onde o seu eco se faz música. Mas, se repararmos bem, também há gente à nossa volta, por pouca que seja, que nos considera importantes para o seu respirar. E é esta cadeia que dá sentido às coisas, que é amparo permanente. Mesmo que às vezes isso fique fora do nosso olhar.

Bjs