sexta-feira, 5 de março de 2010

Antigo hino de tempos adolescentes...


Metade
                                                               Oswaldo Montenegro

E que a força do medo que tenho

Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo o que acredito

Não me tape os ouvidos e a boca

Porque metade de mim é o grito

Mas a outra metade é silêncio



Que a música que ouço ao longe

Seja linda ainda que de tristeza

Que a mulher que eu amo

seja pra sempre amada

Mesmo que distante

Porque metade de mim é partida

E a outra metade é saudade



Que as palavras que eu falo

Não sejam ouvidas como prece

Nem repetidas com fervor

Apenas respeitadas

Como a única coisa que resta ao homem

Inundado de sentimento

porque metade de mim é o que eu ouço

Mas a outra metade é o que calo



Que essa minha vontade de ir embora

Se transforme na calma e na paz

que eu mereço

Que essa tensão que me correu por dentro

Seja, um dia, recompensada...

Porque metade de mim é o que penso

E a outra metade é um vulcão



Que o medo da solidão se afaste

Que o convívio comigo mesmo

se torne menos insuportável

Que o espelho reflita em meu rosto

Doce sorriso que me lembro ter dado

na infância

Porque metade de mim é a lembrança

do que fui...

a outra metade eu não sei...



Que não seja preciso

mais do que uma simples alegria

Para me fazer aquietar o espírito

E que teu silêncio me fale cada vez mais

Porque metade de mim é abrigo

e a outra metade é cansaço



Que a arte nos aponte uma resposta

Mesmo que ela não saiba

E que ninguém a tente complicar

Porque é preciso simplicidade

para fazê-la florescer

Porque metade de mim é platéia

E a outra metade é canção



E que a minha loucura seja perdoada

Porque metade de mim é amor

E a outra metade...

Também...

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